domingo, 6 de maio de 2012

45 dias de greve: organização e ação coletiva da educação infantil

Nossa greve, iniciada no dia 14 de março e finalizada no dia 28 de abril, teve uma única reivindicação: a reunificação da carreira docente, rompida pelo governo municipal em 2003.

Durante 45 dias ocupamos ruas e praças de nossa cidade para exigir o reconhecimento do nosso trabalho docente. Dissemos à cidade: somos professoras, professoras da educação infantil. Levamos para as ruas a cultura da educação infantil. Fizemos ciranda na porta da PBH, na Praça Sete. Demos aula de cidadania.  Formamos na luta.

A prefeitura coagiu, pressionou, buscando desestabilizar a nossa coragem e ousadia. Rompeu contratos de dobra, chantageou a retirada do segundo cargo, tentou jogar as famílias contra nós com cartas sobre nossos salários e anúncio na mídia de compra de vagas nas escolas privadas, tratando as crianças da cidade como “folhas ao vento”.

Nossa luta teve ganhos políticos e organizativos. A cidade conheceu/reconheceu o trabalho que realizamos nas UMEIs e escolas. Mostramos que somos uma categoria organizada e com disposição de ir à luta.

Neste momento de retorno, com a promessa de uma comissão para elaborar até o final do ano uma proposta de unificação da carreira e a apresentação de um substitutivo com alguns penduricalhos, não solicitados por nós na greve, faz-se necessário analisarmos o nosso movimento. Refletir sobre acertos e erros, analisar os avanços, os limites, as perspectivas e os desafios a serem enfrentados para conquistarmos a unificação da carreira.

Para isso, vamos relembrar os passos que percorremos antes mesmo da greve:


Em 2010 um grupo de companheiras, da UMEI Alaíde Lisboa e Carlos Prates, apresentou ao Ministério Público um conjunto de denúncias acerca do tratamento diferenciado recebido por nós na PBH.
O governo foi convocado, em junho de 2011, para audiência e a fala da secretária de educação provocou convulsão na categoria e em diversos segmentos sociais da cidade.

Em resposta ao desrespeito da Sra. Macaé, no dia 20 de junho, na UMEI Alaíde Lisboa, 230 professoras se reuniram e organizaram a sua indignação, elaborando propostas de encaminhamentos para a luta em defesa da educação infantil.

No dia 5 de julho fizemos um dia de greve pela na Rede, dia 5 de julho, exigindo a unificação da carreira docente e o envio do projeto de reajuste salarial à Câmara. Fizemos manifestação na porta da PBH, passeata até a Praça Sete e entregamos na SMED os projetos pedagógicos realizados nas UMEIs.

Ainda em julho de 2011, o Ministério Público apresentou o seu parecer “RECOMENDAR ao Município de Belo Horizonte, na pessoa de Sua Excelência, Senhor Prefeito Municipal Márcio de Araújo Lacerda, que encaminhe projeto de lei à Câmara Municipal, no sentido de revogar os dispositivos normativos anteriores, relativos ao cargo de Educador Infantil e, notadamente, equiparar o status profissional e jurídico de Educador Infantil ao de Professor, nos níveis iniciais da carreira (educação infantil básica), assegurando-lhes os mesmos direitos para todos os fins, inclusive de tratamento e política salarial, remuneração, gratificações e aposentadoria”.
A partir de então, em agosto, foi rearticulado o Coletivo de Educação Infantil, formado por companheiras que estão no chão das escolas, para pensarem ações coletivas para a unificação da carreira. As propostas debatidas no Coletivo foram apresentadas nas reuniões de representantes chamadas pelo sindicato. Entre elas destacamos: a atuação no Regimento Escolar, a ação na Ciranda da Infância (setembro), a participação na Audiência do Conselho Municipal de Educação (outubro).

Em janeiro de 2012, durante a posse das novas direções de escola, o prefeito anunciou o envio à Câmara Municipal de projeto de lei que atenderia às demandas da educação infantil. Estudamos o projeto e percebemos que era um engodo. A PBH reconhecia a atuação docente na educação infantil, alterando a nomenclatura, e direitos específicos do cargo de professor (dobra, aposentadoria). Mas, o projeto não reconhecia para nós o direito ao “pagamento por habilitação”, conquista das professoras dos anos iniciais do ensino fundamental (progressão automática para o nível 10 após a conclusão de curso de graduação). Ou seja, a PBH diz uma coisa e faz outra para consolidar a separação das carreiras docentes.

Por isso, o Coletivo de Educação Infantil, participando das atividades do sindicato, articulou e propôs a realização de uma greve específica do setor pela unificação da carreira docente.

Na assembleia conjunta da categoria, realizada em 8 de março, foi aprovada a greve a partir do dia 14 com uma assembleia no dia 16, e a realização de uma assembleia específica da educação infantil no primeiro dia de greve.
Na assembleia do dia 14 de março optamos por entrar em greve, mesmo se o conjunto da categoria não participasse. Na assembleia do dia 16, não conseguimos aprovar a continuidade da greve de toda a Rede Municipal. E fomos á luta.

Conseguimos conquistar “educadoras” e “professoras”, docentes da educação infantil, e paramos 80% da categoria durante praticamente um mês, quando nosso quadro de paralisação oscilou entre 50% e 40%.

Ocupamos ruas e praças. Conquistamos o reconhecimento da cidade ao nosso trabalho. E ganhamos uma liminar: nossa greve é legal. Pressionamos a Câmara a apoiar nossa luta. Conseguimos a realização de uma audiência pública da comissão de Orçamento, que repercutiu no Conselho do FUNDEB, obrigando o governo a apresentar um parecer da Procuradoria Geral do Município reconhecendo a reivindicação de nossos representantes: o acesso às folhas de pagamento da educação. Convencemos diversos vereadores e garantimos as assinaturas necessárias à apresentação do nosso substitutivo ao projeto 2068/12.

Após 34 dias de greve, no dia 18 de abril, o governo Lacerda resolveu apresentar uma proposta, através dos chefes da SMED. No entanto, a categoria rejeitou e classificou-a como indecorosa, pois em nenhum momento atendia a nossa única reivindicação: a unificação da carreira docente.

Diante dessa proposta, continuamos a greve e protocolamos nosso substitutivo, com 18 assinaturas e o compromisso de apoio de 4 vereadores como relatores das comissões.

No dia 24 de abril conseguimos uma reunião entre Ministério Público, SMED e a nossa Comissão de Negociação. Na ocasião, a PBH reapresentou a mesma proposta do dia 18. Diante disso, a promotora solicitou que a PBH apresentasse uma proposta em relação à unificação da carreira para a categoria antes da assembleia do dia 26/04. A proposta da PBH chegou durante a assembleia, que acatou o encaminhamento do Comando de Greve de marcar nova assembleia para o dia seguinte e estudar com calma o documento.
Na reunião do comando, pela manhã, e na assembleia à tarde, o Coletivo da Educação Infantil avaliou a proposta do governo e apresentou uma contraproposta para encaminhada ao MP e à PBH, após ser apreciada pela assembleia da categoria: limitar o prazo de estudo da comissão para maio com apresentação e votação da proposta de unificação da carreira até junho, a suspensão da tramitação do Projeto 2068/12 durante este período.  Mas, esta contraproposta, não foi avaliada, pois o eixo da discussão girou entorno da continuidade ou não da greve.  
A assembleia votou pela interrupção da greve. Não rejeitou a proposta da PBH e nem aprovou a contraproposta acima citada. Mas, votou pela  redução do prazo de trabalho da comissão de estudo da carreira (sem defini-lo) e nomes de instituições para a sua composição (MP, Câmara, UFMG, UEMG).

Avaliamos que esta (in) definição pode repercutir na nossa luta pela unificação da carreira. Por isso, queremos analisar com vocês as implicações da proposta da PBH para as ações na Câmara, no MP e na próxima campanha salarial.

A PROPOSTA DA PBH
Os quatro pontos da proposta:
“I – manutenção da política remuneratória historicamente praticada pela Administração Municipal em relação aos Professores para a Educação Infantil, no que se refere à aplicação de índices de reajustamento superiores à média dos índices concedidos às demais carreiras da Prefeitura, segundo disponibilidade orçamentária;
II – criação imediata de uma Comissão composta por representantes da categoria, da SMED e da Secretaria de Planejamento e Informação, com o objetivo de promover estudos voltados à melhoria futura do modelo de carreira do Professor para a Educação Infantil, com prazo de conclusão de seus trabalhos até o final do ano de 2012.
III – apresentação de Substitutivo para aperfeiçoamento do Projeto de Lei nº 2068/2012, que contemple as seguintes melhorias:
III.1 – equiparação entre os valores dos quinze níveis de vencimento-base do Professor para a Educação Infantil e os valores dos primeiros quinze níveis do vencimento-base do Professor Municipal;
III.2 – equiparação entre os valores devidos aos Professores, Pedagogos e Técnicos Superiores de Educação e os devidos aos Professores para a Educação Infantil a título de Abono de Estímulo à Fixação Profissional;
III.3. equiparação entre os valores devidos aos Professores, Pedagogos e Técnicos Superiores de Educação e os devidos aos Professores para a Educação Infantil a título de Prêmio por Participação em Reunião Pedagógica;
IV – após o término do movimento grevista a Secretaria Municipal de Educação avaliará em conjunto com os pais e responsáveis pelos alunos das Unidades Municipais de Educação Infantil e o Sind-Rede-BH a reposição das aulas não ministradas durante o período de greve, para deliberação quanto à autorização para pagamento dos dias não trabalhados, inclusive jornada complementar.”

CHAMAMOS ATENÇÃO PARA TRÊS ASPECTOS:
a) política remuneratória diferenciada, melhoria do modelo de carreira e equiparação dos níveis de 1 a 15: a manutenção de reajuste diferenciado para dois modelos distintos de carreira cujos níveis iniciais são iguais, demonstram o não compromisso com a unificação da carreira docente. Cabe destacar que, com a equiparação dos salários das duas carreiras do nível 1 a 15, o prefeito tentará enganar a população e a categoria, simulando ter cumprido sua promessa de campanha de isonomia salarial. Por isso, nos últimos anos e na greve afirmarmos a unificação da carreira para explicitar nossa compreensão de isonomia: salário igual, para trabalho igual, com o mesmo padrão de progressão por escolaridade.

b) O substitutivo proposto pelo governo reafirma a carreira distinta acrescida dos penduricalhos apresentados no dia 18/04. E, certamente, será apresentado aos vereadores como aceito pela categoria, desconstruindo todas as articulações realizadas pela aprovação do nosso substitutivo.

c) As representações da categoria e seus apoiadores na comissão de estudos sobre a carreira têm a tarefa de demarcar a questão da unificação da carreira docente. Qualquer proposta distinta desta consolidará por um longo período a situação atual de carreiras diferenciadas. Esta questão é importante de ser observada, pois a PBH pode apresentar propostas de ganhos salariais específicos e resistir à implementação do pagamento por habilitação, que é o instrumento de unificação da carreira docente na PBH.

NOSSAS TAREFAS PARA O PRÓXIMO PERÍODO
A partir da avaliação aqui apresentada compreendemos ser tarefa urgente a construção coletiva de estratégias que contribuam para a nossa luta pela unificação da carreira docente.
Por isso, convidamos as companheiras a participarem do Coletivo da Educação Infantil e a estarem presentes na Câmara Municipal no dia 8 de maio, terça-feira, 13 horas.

Participem das reuniões. Acompanhem nossos debates

Coletivo da Educação Infantil

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