fonte: www.auditoriacidada.org.br
A
Comissão Especial da Câmara dos Deputados aprovou, na noite de
26/06/2012, o Plano Nacional de Educação (Projeto de Lei – PL
8035/2010), prevendo que somente no ano de 2023 os governos
federal, estaduais e municipais deverão aplicar, em Educação, recursos
equivalentes a 10% do PIB (Produto Interno Bruto). O PL também prevê
que tal percentual suba dos atuais 5% para 7% do PIB em 2017. Para
virar lei, o Plano Nacional de Educação ainda precisa ser aprovado pelo
Senado e ser sancionado, sem vetos, pela Presidenta Dilma.
Houve
maciça presença de diversas entidades da sociedade civil, que exerceram
forte pressão sobre os parlamentares, em coro, aludindo ao
excesso de recursos destinados aos juros da dívida:
“Tem dinheiro para banqueiro mas não tem para a Educação”
Uma
alteração no texto representa risco de que boa parte dos 10% do PIB
serão cumpridos artificialmente, por meio da contabilização de despesas
com aposentadorias e pensões de servidores
da educação, bolsas de estudo, e até despesas com juros, amortizações e
encargos da dívida da área educacional.
Da
proposta inicial constava que 10% do PIB deveriam destinar-se a
“investimento público direto” em Educação. O texto aprovado alterou
para “investimento público em educação pública”, que abrange outros
gastos, como alerta o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (página do INEP).
O
texto aprovado remete para futura Lei Complementar a deliberação sobre
a forma pela qual os estados e municípios – que respondem pela maior
parte dos recursos da educação, e já se encontram em delicada situação
financeira – disporão de recursos para atingir a meta.
Também
não estão especificadas na lei quais são exatamente as despesas que
serão contabilizadas para fins de atingimento dos 10% do PIB, razão
pela qual pode-se repetir o ocorrido na área da saúde, onde os governos
costumavam incluir despesas não propriamente ligadas diretamente à esta
área social. Foram necessários 10 anos para que fosse aprovada, no ano
passado, legislação que regulamentou os gastos específicos da saúde. E
nem assim os governos estaduais têm cumprido a norma.
Enquanto
a Lei de Responsabilidade Fiscal criminaliza o administrador público
que não paga os juros e amortizações da dívida, o texto aprovado não
prevê qualquer punição para os governantes que não cumprirem a meta ora
aprovada.
O
longo prazo de 11 anos para aplicação de 10% do PIB para Educação e a
fragilidade do texto aprovado indica que a luta precisa continuar.
No
ano passado, o governo federal gastou R$ 708 bilhões com juros e
amortizações da dívida pública, o que representou 17% do PIB, ou seja,
mais que o triplo dos recursos necessários para se elevar imediatamente
o gasto com educação dos atuais 5% para 10% do PIB.
A falaciosa “queda drástica” das taxas de juros
Hoje, o Banco Central divulgou Nota para a Imprensa
sobre
as taxas de juros médias dos empréstimos bancários. No quadro 41 da
tabela, verifica-se que a taxa média cobrada de pessoas físicas foi de
38,8% ao ano em maio, taxa esta equivalente a mais que o quádruplo da
“Taxa Selic”, e bastante próxima à taxa observada em dezembro de 2010,
de 40,6% ao ano. No caso da taxa cobrada de empresas, ela “caiu” de
27,9% ao ano (em dez/2010) para 25% em maio de 2012.
Segundo
os dados do próprio Banco Central, o chamado “spread” bancário (ou
seja, a diferença entre as taxas cobradas pelos bancos e as taxas pagas
por estes na captação de recursos) subiu no período, de 23,5% para
24,7% ao ano, ou seja, ambas
são estratosféricas!
A queda da taxa de juros“Selic” também não tem significado a redução no custo da dívida pública: dado divulgado ontem pelo Tesouro Nacional
(planilha 4.1) mostra que o custo da dívida interna federal subiu para
12,16% ao ano em maio, valor este bem maior que a Taxa “Selic” (8,5% ao
ano) e ainda maior que o observado no início do ano (11,56%). Conforme
mostra a planilha 2.5, apenas 27,02% da Dívida Interna sob
responsabilidade do Tesouro Nacional estava
indexada a Taxa flutuante (“Selic”). E segundo a planilha 1.2, apenas
4,6% dos títulos da dívida emitidos em 2012 foram indexados à Taxa
Selic.
Tais
dados provam o que temos denunciado: justamente quando a Selic cai, o
Tesouro passa a vender títulos da dívida a taxas superiores à Selic.
Em suma: ganhando altíssimas taxas de juros com a dívida pública, os
bancos não se interessam em baixar efetivamente as taxas de juros para pessoas e empresas.
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